Muito antes do termo “mobilidade urbana” virar moda, o tema já era corriqueiro na Coluna Política que eu assinava no O POVO. No fim dos anos 90, escrevi seguidas vezes acerca da opção que o Governo do Ceará, então comandado por Tasso Jereissati, fazia pelo metrô. Apontava como um erro caríssimo em detrimento da opção muito mais barata e mais adequada ao nosso quadro urbano. No caso, o ônibus.
Lembro-me bem do incômodo do Governo com os textos. Cheguei a conversar uma vez a respeito com o governador e muitas vezes com o então secretário Maia Júnior, que tinha as obras do metrô sob sua responsabilidade. Nunca deixei de explicar minhas razões.
Mesmo com muitas idas e vindas, os governadores Lúcio Alcântara e Cid Gomes deram sequência ao projeto da linha sul iniciado por Tasso. Com Cid, o projeto foi finalizado e entrou em funcionamento experimental. Avalia-se que o valor da obra superou a casa dos dois bilhões de reais.
Agora, outra linha do metrô está em fase final de licitação. Esta, totalmente subterrânea. O custo final deverá chegar aos três bilhões de reais. Ou seja, no âmbito governamental, a opção pelo metrô tem sido vitoriosa.
No fim das contas, as duas linhas vão alcançar o incrível custo de aproximadamente R$ 5 bilhões. Uma fortuna que, se corretamente aplicada, faria uma revolução na “mobilidade urbana” de Fortaleza. Mas, no Ceará velho de guerra, rico e gastador, resolver o problema corretamente e de forma austera parece ser o que menos importa.
A propósito, no portal da revista Exame, há uma nova entrevista com Enrique Peñalosa, o ex-prefeito de Bogotá que virou referência pela forma como tratou a questão do deslocamento dos moradores na Capital colombiana com quase três vezes o número de habitantes de Fortaleza.
O título da entrevista resume tudo: “A solução para mobilidade urbana? Ônibus, diz Peñalosa”. O hoje consultor afirma que “os políticos adoram investir em trens e metrôs porque politicamente isso é muito fácil. Gasta muito dinheiro, mas não tem discussão com ninguém. Os cidadãos que têm carros querem que façam mais linhas não porque vão usá-las, mas porque acreditam que outros vão e isso vai diminuir o trânsito”.
Peñalosa lembra que os trens e metrôs são “excessivamente caros”. “Você pode fazer, com o mesmo custo que faz um quilômetro de metrô, trinta de faixas exclusivas para BRT... é muito mais agradável ir na superfície, com a luz natural, do que ir enterrado embaixo da terra, como um rato. Não me parece democrático enterrar os usuários de transporte público. É loucura.”
Vejam a linha de raciocínio do ex-prefeito de Bogotá: “Quando houve os protestos no Brasil, a presidente saiu correndo dizendo que ia investir em mais linhas de trem. É a reação emocional, não a mais técnica. É mais difícil politicamente, claro, tirar espaço dos carros para dar mais espaço a ônibus, bicicletas e pedestres. É mais difícil, mas é a única solução”.
Peñalosa é um ardoroso defensor das políticas para retirar carros das ruas como a única forma de melhorar o trânsito. Ou seja, fazemos exatamente o contrário numa política de priorização do automóvel que nasce dos incentivos fiscais do Governo Federal, que depois se vê obrigado a distribuir mais e mais recursos para as cidades abrirem novas vias, construírem viadutos e caríssimas linhas de metrôs.
O economista colombiano oferece a sua receita para restringir o uso de carros: “Pode haver pedágio urbano, cobranças em certas vias, pode ter uma gasolina mais cara, pode ter um rodízio. Mas a melhor maneira de reduzir o uso do carro é restringir o estacionamento”.
Acabar com estacionamentos nas ruas? Perguntou a repórter Amanda Previdelli. “Sim. Há muitos carros onde deveria haver calçadas. Esta é a primeira coisa que destrói a qualidade humana da cidade. E aqui tem um ponto que é importante ter claro: o governo não tem nenhuma obrigação de resolver os problemas de estacionamento”.
Fonte: o povo